segunda-feira, maio 31, 2004

ESTE JESUS CRISTO QUE VOS FALA – XXVII

Alexandra Solnado (AS) – “Cê ta i, Sihô?”

Jesus Cristo (JC) – “Oi.”

AS – “ O que cê tava fazeno, Sihô? Tava aqui tentano dá um alô pra ocê, faz tempo. Essa meditação num tá funcionando bem não, Sô.”

JC – “Tava descabelano o palhaço, Irmã. Tô numa baita solidão. Esse negócio de curá cancro no cólon de devoto a toda a hora é barra pesada…”

AS – “aham…valeu. Ocê tem tem mais alguma mensagem profunda para a Humanidade essa semana? O editor tá reclamando…”.

JC – “Bem, amai-vos uns aos outros e …er…paz na Terra é preciso…e …o Amor. Isso, o Amor é mais importante que o dinheiro. Pronto. É isso aí.”

AS – “Eta, mensagem mais sem graça.”

JC- “Qué que cê qué? Vinte seis livro esgota a inspiração de qualquer um…”.

AS – “Deixa ver…Já sei. Sexo. Sexo vende livro. Sexo cum animau é um tema legau.”

JC – “Assim tipo – transar cum ovelha ao amanhecer dá saudji e faiz crêcer… - Ou não?”

AS – “Munto frôxo… Bota sentimento nisso, Sô!”

JC – “Sexo cum ovêlha, carrapato na orelha”.

AS – “Boa. – lamber buceta de vaca, a tua mulé é uma broaca- Que acha, meu Jesus?“

JC – “Valeu. - Ómi cum mulé braba, buraco na jabuticaba-”.

AS – “Tô anotando. Manda brasa!”

JC – “…”.

AS – “Tá um bocado fraco…”.

JC – “Eta empresária impracáveu… Tô sem inspiração, Sô!”.

AS – “Tenho cancro pra curá e aula de meditação cheia, seu fraco…. Cafageste.”

JC – “Olha lá ó perua! Cê tá falano cum quem? Olhá o Criadô aqui, Sô! Quenga barata essa aí, Sô!”

AS – “Veado. Bicha. Cabeleireiro.Escanção de esperma…”

JC “?...”.

AS – “Bom. Num vamo ficá zangado não, Senhô, perdoa a mortau aqui, vai. Discurpa.”

JC – “Curpa”.

FIM













quinta-feira, maio 27, 2004

A CORRESPONDÊNCIA NA NOVA ERA

Tenho uma grande amiga (R.), que já andou perdida nas florestas do Belize e subiu ao monte Quilimanjaro e que , há uns anos foi viver para o Vietname com o marido (E.). Esta é uma troca de correspondência que acho, ela não se importa que eu partilhe com os dois ou três leitores deste blog. Advirto que ninguém suga gulosamente o membro viril de ninguém no decorrer destas epístolas.

“Olá, Assento.
Olha, é para te distraires! Dei com um ficheiro antigo estilo diário!

" Férias na Tailândia (19/03/95)
Estamos no ano 2535 do calendário tailandês. Aproveito as minhas férias e do E. para renovar o meu visto vietnamita (1800 bahts), o que demora mais tempo do que previsto e me faz pedir um prolongamento de visto tailandês. Entretanto, passeamos juntos pela cidade.
Hotel Malaysia: do nosso quarto 214 vê-se a piscina, onde esperneiam umas miúdas thai, séquito de dois brancos gordos refastelados em cadeirões. Desço para nadar. As garotas aparentam 12-13 anos. Com elas está uma mulher magra com ares de irmã mais velha. O hotel é totalmente permissivo: veêm-se entrar e sair brancos com raparigas thai e no rés-do-chão há um salão de massagens. À tarde, no restaurante-bar, muitos brancos estão sozinhos.

Pela primeira vez, "visito" Pat Pong "by night" e os bares de putas. Chocante e misterioso. Entramos num bar esconso com luz vermelha, onde raparigas fazem habilidades com a vulva de onde saiem bolas de ping pong lambusadas de muco. Em cima do balcão, outras, também seminuas, meneiam as ancas ao som da música "disco", esfregam o sexo nas colunas de metal. Uma conseguiu arranjar um cliente francês. Enquanto o diabo esfrega um olho, desapareceram os dois por detrás de uma cortina, rumo a uma das alcovas nas traseiras. Descemos à rua, os sexo-bares sucedem-se, um pouco iguais nos atractivos. Damos com uma discoteca, quase vazia, animada por duas moças voluptuosas que dançam no meio da pista. Depois, ao fundo de um go-go bar, bebemos uma cerveja, sentados junto do camarim das raparigas. Entram as do turno da madrugada, normalmente vestidas, saiem em bikini, ainda com as marcas do elástico das cuecas no corpo. Saltam para cima do balcão, substituem as do turno anterior, e ficam a dançar, ininterruptamente, de olhar vago. Uma penteia os cabelos acobreados enquanto dança, agitando o monte de Vénus diante dos nossos olhos. Por quanto tempo ficará assim, repetindo o mesmo gesto com o pente? Vinte raparigas contorcem-se ao som de música banal de discoteca, sobre um balcão quadrado mesmo por cima das cabeças dos e das clientes, brancos e thais. Se alguns nem prestam atenção, outros, solitários, pregam os olhos ora no rosto ora no sexo escondido das raparigas. Pergunto a várias moças que idade têm. Todas respondem: "I am 18!". Pergunto-me para quanta depravação de menores teremos hoje contribuído, o E. e eu?

Conseguimos, por fim, encontrar um bar "normal", onde um negro canta jazz-blues! Um tuk-tuk leva-nos ao hotel! não é assim tão tarde como parecia : apenas duas da manhã! Milagre: nem um barulho na rua - Bangkok descansa das labutas e misérias diárias!"

Um beijo, Assentinho.

Até breve

R.


“Querida R. (Lisboa, 27/05/2004)

O meu sonho é um dia descorar a pele na mesma clínica do Michael Jackson, até ficar como uma lagosta albina, engordar, deixar crescer um bigode, aprender alemão, vestir uma camisa de palmeiras, uns calções, chinelas de praia, encher-me de cerveja e ir num charter "fuck trip" até essas belas e exóticas paragens, esburcinar duas rapariguinhas cujo pai teve que as vender para a prostituição porque o búfalo da família morreu e a seguir apanhar sida, blenorragia, síflis, hepatite C, gonorreia e, passar a vir para o Algarve, numa mais pacata, à custa da segurança social alemã, país no qual entretanto me naturalizei.

Ou então, passar a andar vestido de branco, com um rabo-de-cavalo a passear-me no Celeiro ,converter-me ao budismo Theravada e passar os meus dias a meditar em padmasana, a observar os meus pensamentos como quem vê televisão, à espera da Iluminação, enquanto masco placidamente uma sandes de salsicha de seitan e cubro o corpo de cristais com fins terapêuticos.

Ou, deixar crescer o cabelo e a barba, deixar de me lavar e andar com todas as minhas posses num saco de plástico a falar sozinho pelas ruas de Lisboa.

Ou, começar a comprar sacas de fosfato de amónio para fazer explosivos caseiros, converter-me ao islamismo, queimar bandeiras americanas e obrigar a minha mulher a usar uma burka e meter os meus filhos numa escola em que tudo o que eles aprendem são sutas do Corão, enquanto eu me dedico ao negócio da revenda de roupa manhosa no centro comercial da Mouraria.

Ou, ir ao Vietname e propor ao E. uma nova forma de amor em que viveríamos em comunidade sexual e montáva-mos um negócio ilegal de import-export associado aos produtos regionais do Triângulo Dourado.

Ou, ter um AVC aos 40 anos (para o ano, portanto) e passar o resto dos meus dias a babar-me com um cobertor no colo no Centro de Dia de Chelas e a vender dissimuladamente crak e PCP à juventude, porque nisto do negócio é preciso é aproveitar os nichos de mercado e as benesses fiscais.

Ou, apanhar um camadão de candidíase na boca por causa do meu gosto algo obsessivo por práticas sexuais não reprodutivas.

No entanto, acordo nesta secretária duma instituição decadente, patética e desacreditada que finge que tem cientistas. Mas não. Um país marginal tem ciência marginal que é o que eu faço aproveitando alguns dotes de boa memória, gosto por plantas e a tendência que muita gente tem para o seguidismo equivocado. De ti, R., eu não me esqueço, porque, quanto mais não fosse e sobretudo por tudo mais, vais "onde te leva o coração" e és um dos meus dois ou três ídolos na Vida. Lembra-te, de vez em quando do teu rebanho, se fazes favor.

Com amor e devoção.

A.




terça-feira, maio 25, 2004

A TEMPORADA PARVA ou DELÍRIO NA PRAIA DA TORRE

[Ao Pedro B.]

Caros dois ou três leitores,

Aproxima-se a canícula e temos de começar a pensar no nosso corpo, na pele, nas chinelas de praia, nos óculos espelhados coloridos e no Peugeot 106 kitado que vamos usar para sacarmos umas mulas. Pois isto de iraques, concordatas, merdas que caem nos aeroportos em cima duns bifes, nos palestinianos que vêm as suas casa demolidas pelos bulldozers do Sharon, das crianças doentes, esfomeadas e deslocadas aos milhares que aquele comuna do Salgado fotografa, nós não queremos saber nada. Nós queremos é agasalhar a morcela.

Pois bem. As mulas da Praia da Torre são fáceis de sacar. Com aquelas dos berloques côr-de-rosa e das calças de ganga com remendos ainda se conseguem umas belas pranchadas. A malta vai assim “à macho” mandar uns chapões na água, daqueles que até fazem saltar os ratos inchados, os preservativos meio derretidos e os cagalhões que normalmente por lá andam a boiar. No outro dia, apesar de estarmos um pouco sobre o cedo na época balneária, fui à praia e deu-me para o naturismo. Tirei os calções Bilabong e pús-me à “pai Adão”. Tinha metido dois ácidos, umas trips de mescalina, umas pastilhas de PCP, fumado um crackzito e metido umas gotas de extracto de pituitária, para curtir melhor.

Cabo do Mar (CM) – “O senhor vista já os calções se não quer ser autuado”

Assento (A) – “Mas, senhor guarda, eu não estou a incomodar ninguém…”

CM – “Vista-se. Eu não quero saber de nada disso. Eu quero é agasalhar a morcela!”

A – “Bom. Andamos todos ao mesmo…” – Disse eu, atrapalhado, pois temia pela minha maleta cheia de drogas.

CM – “Pois. Olhe-me bem nos olhos.” (Tira os óculos espelhados).

A – “…er...”

CM – “Sabe que isto de vigiar as praias é um bocado solitário.

A – “Acredito, sim senhor”.

CM – “Que tal um beijinho?...”

Engoli em seco e não tive outro remédio senão oscular respeitosamente o agente da autoridade. Fiquei com o aftershave Old Spice no nariz durante horas. Perturbado, peguei no meu Fiat Abar, liguei o Blaupunkt no máximo e pús um cartucho dos CTT (Destruição) e zarpei a toda a velocidade dali. Um bébé a tocar trompete voava ao meu lado na autoestrada. Bem tentei acelerar, mas não valia a pena. Ele zombava de mim enquanto tocava o “48 crash” da Suzi 4 em cánone inverso. Talvez fosse da trip. Não sei bem.

Sente-me noutra praia e despi-me novamente. Saquei do meu farnel constituido por uma Sumol, uma sandes de “Lanche” da Izidoro e um bábá com licor de aniz e preparava-me para dar a primeira dentada quando, pelo canto do olho, reparei num cigano todo seboso que se sentara ao meu lado. Tirou as botas mas deixou as peúgas e sorriu prasenteiramente. Uma louva-a-deus gigante estava animada a discutir com ele a situação no Kosovo. Parece que se chamava Guilherme Bórras. Estas cenas faziam-me lembrar quando eu andava a caldar Raid Casa e Plantas no peito com seringas ferrugentas. Nessa altura é que eu via estas merdas. Uma vez vi o Salalzar a sugar gulosamente o membro viril do Cardeal António Cerejeira, enquanto este estrelava um ovo em cima da cabeça da do D. Fernando de Saxe Coburgo Gotha. Ainda hoje não consigo decidir se tal acontecimento terá, de facto, tido lugar ou não. Estou a ficar queimadinho das drogas, se calhar. Tentei agir coerentememente: ofereci-lhe das minhas vitualhas, com os morcegos a rodopiar à nossa volta. Dizia William James que, “a tragédia moral da vida humana tem origem no facto de a ligação entre a visão da verdade e a acção estar normalmente em ruptura”. Foi uma festa. Estavamos nús.

FIM




terça-feira, maio 18, 2004

A CONCORDATA

Uma vez ouvi alguém dizer que era fácil ser intelectual de esquerda. Bastava demonstrar indignação e pronto, estava a coisa feita. Com as injustiças, os abusos de poder, as arbitrariedades, os anacronismos, enfim. Pois bem, estou profundamente indignado e assumo, chamem-me o que quiserem. É a Concordata. Como é possível que as forças obscurantistas católicas – Opus Deis e outros mafiosos mais ou menos fundamentalistas, sonsos e antidemocráticos – continuem a fazer-nos a nós - os portugueses – crer que é aceitável o apoio monetário e benesses institucionais a uma confissão religiosa em particular? É proprio dos estados modernos democráticos desde o Rosseau e mais não-sei-quê, que a separação de poderes e sobretudo das esferas religiosa e poder político é a única solução civilizacional defensável. Não me venham com argumentos históricos e antropológicos ou alegar que a maioria da população portuguesa é católica, etc. Até pode ser verdade. No entanto, também é verdade que existe um pluraridade religiosa que não era assumida até agora. E continua a não ser assumida.É prepotência encapotada. Mais, fazem-nos crer que este descarado e medieval favorecimento da Igreja é culturalmente relevante a ponto de terem honras de transmissão directa na televisão estatal, acontecimentos de interesse apenas a algumas elites católicas poderosas – o acto de canonização do J. M. Escrivá. Talvez para nos convencer, a nós, que é natural que essa elite seja o que é : a elite económica, política e académica. Quase a sugerir que o seu lugar natural de líderes tem origem divina (!!!). É caricato mas é o que parece. É inaceitável, acho eu, para a maioria da população urbana com um grau de instrução média. O facto é que muita desta população urbana não tem pura e simplesmente religião, apesar de contar para as estatísticas dos católicos. Não vivemos num estado teocrático, mas estas benesses descaradas, anacrónicas e salazarentas que vêm directamente do nosso bolso – pois mesmo as vantagens fiscais da Igreja alguém tem de as pagar – são inaceitáveis. Apesar de nos serem apresentadas como naturais e de origem institucional. Repare-se que a nova Concordata é assinada por tipos do PS e PSD. Parece democrático e representando as forças vivas, blá, blá, não é? Mas não é. É que pura e simplesmente a Opus Dei é transversal ao PSD e PS. E lá estão os beatos do poder, com os sorrisinhos sonsos, as mãos postas…e no nosso bolso. Indignem-se também as outras confissões religiosas. Não quero falar em retocesso civilizacional, mas é perturbador para mentes mais atentas, não? No mínimo é descarado e anti-democrático. Um escândalo.
Estou de facto indignado.

Assento da Sanita

quarta-feira, maio 12, 2004

O MISTÉRIO DE FÁTIMA E O FENÓMENO OVNI ou AS CONFISSÕES DE FRANCISCO

Eu sei que não passo de um pastor ignorante e que sou um pecador, pois não deixo as ovelhas sossegadas. Mas eu bem disse à minha irmã Lúcia que a N. Sra. não podia ser. Tinha escamas verdes, um olhinho a mais no meio da testa, umas antenas na cabeça e “take me to your leader” não é propriamente um segredo que mereça estar trinta anos por revelar. Eu acho que ela tinha vindo estacionar o disco, como aqueles senhores que param na beira da auto-estrada com quatro piscas para pôr a picha a escorrer. Mas eu, em boa verdade, nem quero saber nada disto de padres e santinhos e mais não sei o quê. Eu quero é agasalhar a morcela. A minha irmã Jacinta até marchava, mas se calhar é pecado…
- “Huh! Ó Jacinta, anda cá carago!”
- “Huh!?”
- “Huh! Vamos brincar aos médicos ali para trás daquela azinheira?”
- “Huh! Boa!...ainda tens aquele prurido na sarda?”
- “Tenho, pois.”
-“Ó meninos…o que é isso? O que é que estão a fazer?”
- “Huh! É a gaja!”
- “Onde?”
- “Aqui em cima, na azinheira.”
- “O que é que a senhora está a fazer aí em riba?”
- “Estava a mudar o Modess Aderente, rapazinho.”
-“Huh! Que vergonha…importa-se de não pingar para cima de nós? Isso é o quê? Traz o saco do talho a pingar?”
- “Não propriamente….”
- “Bom., meninos, vão lá dizer ao senhor padre, para dizer ao bispo, para dizer ao Salazar e ao Papa que eu apareci.”
- “Huh! E quem é afinal a senhora?”
- “Ó filhos, sou a Vossa Senhora…”
-“Tem algum recado especial…ou?”
- “Não filho….Espera, tenho. Diz ao senhor padre que eu mando dizer que a de Lourdes é uma vaca, uma usurpadora, uma puta rafada, uma falsa…”
-“Não precisa de se irritar. Será entregue.”
- “Pois.”
- “Olarilas.”
- “ Tá-se bem.”

FIM


terça-feira, maio 11, 2004

UM PEDÓFILO SEM PEDIGREE

Ela era doce e inocente. Fui esperá-la para a porta da Escola C+ S da Reboleira para lhe mostrar os factos da vida. É de pequenino que se torce o pepino. Peguei no meu sobretudo comprido e vesti-o. Por baixo estava “á Pai Adão” e mal podia esperar por chegar ao meu destino. Eu sei que sou um bocado tarado. Tenho muitos traumas de infância é o que é. A minha mãe batia-me e atava-me á perna do piano de cauda enquanto ria a bandeiras despregadas e tocava peças de serialismo dodecafónico de Paul Hindemith e Alfred Shnitke para me castigar de fazer chichi e cócó nas calças. Depois vinha o meu padrasto e lia-me volumes de “O Mundo como Vontade e Representação” de Schoppenhauer. Depois fechavam-me na dispensa com o Tejo que me tentava cobrir a todo custo porque tinha um descontrole hormonal porque nunca via cadelas lá no quintal. Muito traumatizado. Vagueei pelo comboio. Uns rapazes étnicos entravam pela janela, enquanto uns pacatos estudantes despojavam uma velhinha de umas anacrónicas arrecadas de ouro e lhe malhavam uns pontapezitos medicinais. Dois polícias de segurança pública, encarregados da segurança dos passageiros, amavam-se com fúria no compartimento da carruagem.
-“Ah! Que belos alforges tens, Emídio!”
-“E tu, Nelson? Tens cá um tarolo. Já estou a ficar louca!”
Os dois agentes rebolavam por entre as colheres queimadas e os meios-limões. Um deles fazia sérias intenções, ao que parece, de sugar com gula o membro viril do outro, mas sinceramente não sei bem. Dois góticos cabeludos e um metálico com uma T-shirt dos Napalm Death, olhavam a cena de soslaio com indiferença, pois estavam ocupados a enrrolar um charro tamanho duma courgette.
- “Ouve. Ganda sabonete que desfizémos neste charuto. Foda-se…”
-“Ya, é aquela, tás a ver?”

Chegámos à Amadora e dirigi-me para a escola onde a minha doce menina estaria, de trancinhas e soquetes, certamente a brincar com às bonecas com as amigas. Espreitei pela rede ferrugenta que dava para o recreio e vi-a. Tinha o cabelo rapado de um dos lados, um blusão de cabedal coçado e estava a aviar uns pontapés na cabeça da professora de português. Ah… como era dada à brincadeira.
-“Esta vaca do caralho! Puta!” Dizia isto enquanto sorvia o ranho.
Bom. Se calhar já não a via há uns tempos. Elas crescem muito depressa.
Uma das amigas dela, a babar-se por causa do enorme piercing lingual que usava, disse com voz grossa e um bocado belfa:
- “Ouve lá…tás a micar ali aquele cota, caralho, foda-se, cona da tia, puta que pariu o velho…cabrão de merda, caralho. Tem uma gabardine e anda aqui a rondar para esgalhar umas à conta. Cabrão de merda. Vamos já foder-lhe os cornos, caralho!”
- “Tens razão, minha, é um daqueles peidófilos ou que é, caralho, vamos lhe foder o canastro caralho!”
Ainda tentei fugir mas os pontapés na boca e nas costelas choveram em catadupa e fui parar ao hospital Amadora-Sintra onde me fizeram uma colonoscopia por engano.

FIM



segunda-feira, maio 10, 2004

DIÁRIO DE UMA MULHER APAIXONADA (EXCERTOS)

Acerca da sua grande paixão da adolescência, a fonte mais segura é o “Diário”, que começa assim, a certa altura:

“(Arcozelo, 2 de Maio de 1972)

Primeiro, vio-o. Foi um amor profundo e sincero. Subtis e voluptuosos arrepios percorriam-me as costelas flutuantes quando pensava nele. Nunca tinha sentido um desejo de entrega tão arrancado do fundo da Alma. Todo o meu Ser grita em silêncio “Amo-te!”. Ainda me lembro quando te vi, pela primeira vez, balançando-te indiferente, com o vento suave da Primavera. Eras o mais velho de todos. Erguias-te, ufano e orgulhoso acima dos outros, abrupto e de expressão esfíngica e indiferente. Eu, pobre rapariga, como resistir a tamanhos encantos. Eras o mais taludo da horta. Deus! Que talo viril e espesso! Que cicatrizes foliares ásperas e agrestes…”

Seguem-se duas páginas coladas e depois a seguinte “ODE AL TALLO”:
“Tallo, tallo!...
Que grueso que eres, en la huerta
My entrañas se agitam de deseho por ti, tallo.
La col que te vio nascido y galante en tus profundezas vegetales, canta!
Canta además, con la alegria de haber conocido los zucos de mis entrefuelhos
Para trás e para delante, no cambiaste tu vigor erecto…
Eres un tallo de puta madre, cabrón! Para ti, la función, nunca es un coñasso.
Te cagas en Dios, en la Óstia y en el Leche de la puta madre de los maricones que te envidian.
Te cagas en dobles.
Hoder, tallo! Los caramellos El Caserio que comi se quedaran collados a mis dientes y el anis escarchado Marie Brizard me dio una fuerte dolor de estómago y una puta disenteria.
Como un fuerte corcho te introduci en el recto para parar la torriente de mierda que salia sin control...y ...ai! Tallo....

Y conoci al amor.”


In “Diário de Adozinda” 1972, em lingua castelhana (inédito, em publicação, Bandalheira, Editores).








sexta-feira, maio 07, 2004

MAIS UMA BABOSEIRA RURAL

Adozinda foi-se esconder na pocilga com o Mariano, o porco residente e, levava o seu talo de couve galega. Era grosso e cheio de estrias espessas e coriáceas. A moçoila olhou com gula o seu querido talo. Era raro separar-se dele para onde quer que fosse. Mariano, indiferente ao facto de Adozinda estar a tirar as cuecas, fuçava no maceirão por entre as cascas de melância, papo-secos ensopados, sémeas e folhas de nabo, que flutuavam na lavagem. “A bosta é um óptimo lubrificante” - pensou Adozinda, enquanto besuntava copiosamente o seu talo. A mãe, que tinha ido buscar o cura, o chefe do posto e o médico da aldeia, estava entretanto a espreitar com eles para dentro da pocilga. Adozinda só deu por isso porque o porco Mariano estava agitado e a grunhir. A rapariga que estava a revirar os olhos, a urrar, a resfolegar e a tentar abocanhar as partes privadas do animal, só deu por isso, porque eles começaram a pigarrear insistentemente. O cura, no dia seguinte deu brado do sucedido na missa e ainda fez uma notícia acerca do assunto no boletim da paróquia que editava com a sua afilhada que andava sempre grávida não se sabia bem de quem. Como castigo, a mãe tirou-lhe o talo durante dois dias inteiros e o médico recusou-se a curar-lhe a febre afetosa que entretanto apanhara com Mariano. Adozinda andava metida com os seus botões e acabrunhada. Estava entretida a mexer na bosta e a remoer na sacanice da mãe, quando lhe deu uma veneta e foi ordenhar a Mimosa. O Ti Jacinto estava a enfiar o braço inteiro no recto da vaca.
-“Huh! Ó Ti Jacinto, o que está vocemecê a fazer, carago?”
- “Vi o veterinário a fazer isto o outro dia. Meteu o braço no sim-senhor da minha Maria e depois meteu uma coisa comprida na natureza do animal… para fazer a senicação municipal”.
- “Huh! Inseminação artificial…”.
-“Isso”.
-“Bom. Então passe bem, Ti Jacinto.”
- “Inté, rapariga”. – Disse o ancião enquanto retirava o braço do recto da vaca e cheirava com sofreguidão.
-“Ahhhh!...Que cheirinho! Faz-me mesmo lembrar a minha mãe, quando se descuidava, nas noites em que comia feijão guisado com couves e nabo!...hum…”

FIM.



quarta-feira, maio 05, 2004

ECOS DO MUNDO RURAL II

Adosinda ia com uma vaca pela arreata, a caminho dum lameiro, a ajeitar as saias e as cuecas que se metiam na ninfra. Os tarolos de merda e corrimento seco repuxavam-lhe os pêlos púbicos. Devia era fazer como a sua avó: não usar cuecas e, quando queria verter águas, abria as pernas à frente de quem fosse e aliviava a bexiga, fazendo uma poça de mijo borbulhante. As pessoas na aldeia não estranhavam isto, pois era o que toda a gente fazia. Muitas vezes estavam a meter os queijos a secar na cama dos animais - com o calor da fermentação da bosta a ajudar á curtimenta; ou a mexer a sopa na panela de ferro no lume, alumiados com uma candeia de azeite e soltavam gases – “com licença” – diziam. E ficava tudo desculpado. A boa educação acima de tudo. Adozinda depois da “história” ficava sempre com lascas dos coágulos secos agarradas ás toalhinhas turcas, que lavava escrupulosamente. No entanto, assim como algumas pessoas têm a mania de brincar com os burriés, também a moça tinha o vício secreto de brincar com as lascas daquilo e fazer rolinhos com as pargas que ficavam coladas às toalhas. Pudera…não haviam as cuecas de lhe ficar pegadas às miudezas...

Nisto, apareceu o Ti Jacinto, que era um bocado atoleimado, de trás de um carvalho. Vinha a comer um bocado de pão e disse a falar de boca aberta, mostrando simultaneamente o bolo alimentar, os poucos dentes amarelados e pútridos, por entre a piorreia, os abcessos e as aftas:

- “Huh! Ó moçoila!...adonde é que tu vais, rapariga?”

A moça meneou o talo de couve que trazia para se entreter e disse:

-Huh! Ora bons olhos o vejam, Ti Jacinto! Atão? Tal vai a criação?”

Nisto passou o Regedor numa burra, com um enorme chapéu de abas largas, o seu colete e a corrente do relógio a reluzir.

-“Huh! Olha quem aqui eu encontro! Ó Maria Adozinda, atão já namoras, rapariga? Dize lá?”

- “Huh! Bom dia, senhor Doutor! Tal vai a criação, carago?”

- “Huh! Vai andando…Tenho uma galinha pedrez que feriu uma pata. Foi o meu neto Matias que lha tentou introduzir na cloaca. É que costuma fazer isso com os cães. Tenta-lhes enfiar a cauda no “sim-senhor”. Aquilo é que é ganir, carago…”

Nisto, a vaca borrou-se pelas patas traseiras abaixo, copiosa e ruidosamente, num enxurro de bosta rala, pois tinha comido erva ainda muito verde.

-“ Huh! A tua Mimosa está mal da barriga, Adozinda…tens que lhe dar uns farelos.”

-“Huh! Farelos, quem tem farelos, senhor Doutor Regedor? Isso não se dá às galinhas, carago?

- “Huh! Também se dá ás vacas para estancar a caganeira - com licença - para não se borrarem assim desta maneira.”

-“Huh! Mas ó Senhor Doutor Regedor Patrão, as ruas da aldeia estão a abarrotar de bosta! Andamos enterrados em merda pelas canelas quando vamos à Igreja ou a qualquer lado! Olhe, a estátua do Roberto Leal, no largo do pelourinho, já tem bosta até aos joelhos!”

-“Huh! Oh, rapariga, não digas sandices, carago! Ainda o ano passado mandei afastar a bosta para os lados…isso também é má vontade, catano.”

“Huh! Está bem…pronto. Adeus e cumprimentos à senhora doutora patroa miss regedora. Anda lá Mimosa, carago da vaca! Caga no sapato! Mija na agulha! Em muy hieramá te comprei áquele cigano, carago, foda-se, caralho. Puta de vaca…” E dizia isto enquanto malhava com o talo de couve no pobre animal.

O regedor virou-se para o Ti Jacinto, com um ar sério e disse:

-“Huh! E tu Jacinto, eu bem te vi a esbrugar o malho atrás desse carvalho…malandro! Devia-te mandar cortar a mão com que que te manipulavas, velho porco!”

Envergonhado, o Ti Jacinto disse:

-“ Tenha dó de mim, Senhor General Soba Regedor. É que eu estava a olhar era para a vaca…tem cá umas tetas cheinhas de leite! Só me faz lembrar a minha mãe, carago.”

O Regedor meteu a viola no saco, picou a burra e foi andando a pensar que aquilo talvez fosse do arsénico que o médico da aldeia tinha receitado ao Jacinto.

FIM