terça-feira, março 30, 2004

JACK E O PEPINO GIGANTE ("ONDE É QUE PÚS O LÍTIO?" III).

O numerário da Obra retirou o pepino gigante do recto. As badanas do entrefolho acompanharam o fruto da cucurbitácea, que saiu com um "ploc" sonoro e ficaram a adejar, soltas, enquanto o períneo se contraía num frémito involuntário de volúpia. Já andava com vontade de variar. Os crucifixos eram menos bons, pois ficava com esfíncter quadrado durante uma semana. Esta prática sexual , o "cucumbering"não era nova, mas não deixava de ter os seus encantos. Já tinha experimentado o "legging" com o motorista, mas não era a mesma coisa. Especialmente se o pepónio fosse previamente barrado com uma fresca unção de molho picante ou mentol, era de se lhe tirar o chapéu. Depois, divertia-se a escavar um buraco no pepino, onde introduzia um funil por onde despejava o leite a ferver misturado com ovas de peixe, para simular o verdadeiro liquido seminal, no auge do amplexo recto-vegetal. Outra variante consistia em rechear o pepino com uma mistura de petazetas e sais-de-frutos que seguidamente molhava, de supetão,com um copo de água. O chato é que o pepino, propulsionado pela mistura efeverscente, uma vez subira cólon acima até se perder nas circunvoluções mais sombrias do intestino delgado. Os médicos que lhe fizeram a colonoscopia nem queriam acreditar. Arregalavam os olhos e tolhiam-se-lhe as palavras, com a garganta embargada. -" Mas, senhor Ministro do Trabalho e Solidariedade Social, nabos, Nossas Senhoras, rolos de pintar...isso é trivial, mas... pepinos recheados de Alka-Seltezer...é muito esquisito,... nós...er...vai-nos desculpar". O Ministro ajeitou os óculos de massa e pigarreou. Meneou a medalhinha do S. José Maria Escrivá e admoestou a equipa médica pela indiscrição. - "Olha os cortes na reforma...". Os médicos engoliram em seco e empurraram o colonoscópio mais um palmo pela tripalhada baganofeclícia adentro. O pior é que o pepino fazia bicha no cólon descendente com outras hortaliças introduzidas pelo Ministro havia semanas com propósitos lascivos. Um repolho, uma endívia, uma fatia de abóbora, um molho de grelos de nabo, uma réstea de cebolas inteira, um pargo, uma saca de batatas... Os médicos ruborizavam com aquele autêntico lugar de frutas e legumes alojado no ministerial intestino.
"É que estamos na Quaresma e nós as pessoas com Fé não comemos carne à sexta-feira. Daqui a três semanas preparem-se para os enchidos. Isso é que vai ser, meus cabrões!". Dizia o Ministro, enquanto ria bandeiras despregadas e se babava de olhos alucinados, só de pensar nos buchos, salpicões, salames, catalães de Barrancos e presuntos pata negra com que iria rechear o cólon ascendente.


FIM

terça-feira, março 23, 2004

UMA TARDE DE INVESTIGAÇÕES ESOTÉRICO-CABALÍSTICAS NO ALENTEJO

Para os dois ou três leitores deste blog que tinham curiosidade, junto uma foto do Assento da Sanita, numa de freak new age a absorver as forças cósmicas e telúricas no dia do passado dia 21 de Março, dia do equinócio da Primavera no cromeleque de Almendre. Deu-se um estranho facto, de forte significado mistico e esotérico. Por alturas do meio-dia, um dos menires, O Belo, desatou a deambular entre os parentes e a tirar fotos. Esta é uma delas. Notou o Assento, que estavam lá também uns senhores versados em ovniologia que se preparavam para assentar arraiais com uma tenda e tudo vá-se lá saber com que propósitos iniciáticos. Não vi ninguém a tentar colher visco das azinheiras em volta. O mais esquisito era eu mesmo. É uma puta duma sina, mas é mais forte que eu. Já em tempos idos ia para as portas das creches com um sobretudo, mas agora deu-me para fazer salamba sirshássanas nos cromeleques. Fazendo uso dos meus poderes extrasensoriais, entabulei uma comunicação telepática com o Menir fotógrafo e apercebemo-nos da fantástica coincidência numérica que resulta de extrair a raiz quadrada do comprimento da base da pirâmide de Queóps, dividido pelo integral triplo da cúpula do Duomo de Bruneleschi em Florença, que dá exactamente o comprimento da sombra projectada pelo menir central do cromeleque. Talvez o vinho da tasca do Chico tivesse tido alguma coisa a ver com o caso, mas nisto de intuições holísticas nunca se sabe. Fui com a promessa de ver freaks abraçados aos menires, que o Menir falante e fotógrafo afiançou serem frequentes, mas não vi nem um. Nem gajos com varinhas de radiastesia se bem que havia um senhor a menear o pau atrás duma azinheira. Outra coisa provável era uma excursão mista Nova Acrópole - Editora Pregaminho, mas acho que já se tinham ido embora acossados pelos muitos javalis que por ali deambulam.

Os nossos antepassados Celtas ou que raio eram, tinham muita paciência para andar a alinhar bajolos de granito com a astronomia porque não tinham dinheiro para o Almanaque Borda d`Agua ou se calhar, nem existia ainda. Há sempre a hipótese de terem sido os nossos antepassados Atlantes, Hiperbóreos ou da Terra de Mú, que tinham boas relações coma Deusa-Mãe que veio de Vénus numa nave espacial, de que fala já o Antigo Testamento que lhes explicaram. Na Agartha, o reino subterrâneo cuja entrada secreta é no Tibete como toda a gente sabe e, onde vivem os governantes invisíveis do Mundo, parece que sabiam fazer isto das pedras. Ainda raspámos um bocadinho dos menires para uma mortalhinha mas não deu nada. Lembrei-me tanto do Terence MacKenna...coitado. Nestes sítios há que fazer experiências etnopsicofarmacológicas, se bem que o pastor que por lá andava achou um bocado esquisito. - "Ó compadre, atão essas pedras fui eu e meu compadre Zé que empurrámos para aí quando andámos a limpar o terreno para fazer aqui esta horta. E esse caralho - com licença - que vocemecê vê aí nesse barqueiro redondo, fui eu quando andava à escola que fiz. Deixe lá isso...." Bem me parecia que as sombras apontavam para um sítio qualquer. Consultei a minha carta astrológica e a do Menir, se bem que para além de constatar a homosexualidade latente de um de nós (que não vou dizer qual), não me pareceu que pudéssemos estabelecer uma relação positiva entre o comprimento da sombra e o nosso ascendente. Seriam os Deuses astronautas? Seria mentira o que vinha na revista X? É melhor vender os meus livros do Robert Charroux e do Jaqques Bergier? Será verdade que as laranjas não apodrecem debaixo das pirâmides? Se a raiz quadrada de um porcento da população mundial fizer meditação transcendental acabam as guerras no Mundo? Vale a pena tocar violino ás plantas que elas crescem mais? Vivemos numa época de crise de crença em algo maior que nós proprios e uma coisa é certa: somos muito pequeninos em face dos mistérios do Universo.

Bem hajam.

AS.



sexta-feira, março 19, 2004

FIAT LUX

Deus estava meio constipado. Assoou-se e a moncada espessa e esverdeada ficou-lhe agarrada aos dedos. Como não tinha nada para fazer, divertiu-se a esticar e a fazer rolinhos com o ranho. Torcia, separava bocadinhos, voltava a juntar tudo e a fazer uma bolinha pegajosa que rolava entre os dedos. Como a bola de ranho estava a perder a consistência achou melhor molhar aquilo. Andava cheio de catarro. Puxou a gosma do nariz e cuspiu o escarro para a mão. Misturou tudo muito bem.. Misturou novamente, enrrolou, esticou e assim ficou distraído. As horas foram passando e Deus olhou para o seu monco já escuro e com grumos. Deviam ser os burriés. Aquilo aparentava uma forma ridícula e monstruosa. Tinha uma bolinha no cimo de um cilindro grosseiro com quatro apêndices de ranho saídos para os lados. Olhou bem e sorriu Deus e viu que era bom. Pôs o monco num sítio chamado Éden e chamou-lhe Adão.

FIM


quarta-feira, março 17, 2004

A CHEESY PORN TALE IN A FOREIGN LANGUAGE

Jonathan had a humongous dick but he couldn´t find a good crevice to boink. Most girls would go frantic about his one-eyed-trouser-snake, but when they got to swallow it their throats would go sore like hell. No wonder. Their tonsils were squeezed like poor ripe tomatoes against the epiglothis. Sperm would cascade down to the stomach of the poor girl. Tipically, they would then ask Jonathan to “go down hurshey avenue”, viz. to shove the gigantic morsel up their tight asses.The turd would be pushed up to the ears while their eyes bugged out. Since he couldn´t find girls anymore to have sex with, he started chasing sheep wich are known to be tight and tame animals. This new endeavour of Jonathan happened to be a bad idea too, because sheep are such elusive animals, not to mention the foul smell Jonathan was forced to put up with just because he wanted to relieve his bursting prostata of some sperm. Once, while running through an olive-grove chasing a nice furry sheep he crashed into an old olive-tree. Still dizzy he tried to put himself together and stand, reaching for the trunk of the tree. A nice mossy bark with soft inviting holes...”hum” – thought Jonathan. “Trees never will protest about my big thingy, and this fluffy nice holes in the trunk are just asking to be banged..” He then pushed his dick into a hole just where a bat was taking a nap. The poor animal, startled with the intruder, decided do bite it. “AAAAAHHHHHH!!!... Fuck! Bloody tree! Fuck! Fuck! Fuck! Fuck! Fuck!... His dick swell to the size of a watermellon and Jonathan had to carry it dragging it throught the dirt. A mole was just leaving his nice confy hole and was struck by the swollen dick of poor Jonathan in the head. “Just my luck”- said the mole. “The motherfucker. Slimeball, dickhead. Just go drag your fat dick somewhere else, fathead”.

Jonathan weeped in lament and an angel of the Lord pittied him – PUFF – with his magic wand put Jonathan`s dong just the original size. He rejoiced in His glory and sang in awe.” Bless! Bless! Bless the Lord”. The Lord caught him and put him in his right side, where he still is striking Opus Dei guys with thunderbolds, or openning sudden crevices during earthquakes to swallow them to Hell, when he can.

THE END.


segunda-feira, março 08, 2004

COMO EU GANHEI O INFERNO COM DOIS PARÁGRAFOS

O Cardeal Ratzinger carregou no botão “Discurso da Quaresma” e ajeitou os fios do telecomando. O Santo Padre abriu os olhos e com um ar inexpressivo começou a discursar com uma voz monocórdica e sotaque polaco “Agnus Dei quod tolliis pecata mundi, miserere nobis…”. O Cardeal fez um ar aborrecido e mexeu outra vez nos comandos. Tinha-se enganado a seleccionar o idioma. A porcaria dos menus eram complicados. Esta nova consola “Pope-Galaxy 2000 – DVD Gear” era complicada demais para um pobre homem da Igreja já avançado em anos. Mudou para “português”. O Papa que estava de cabeça caída, com a mitra a abanar e a babar-se, ergue-se novamente e disse “Borrego de Deus, que tiras o pecado do mundo tem piedade de nós…” . "Porra. Borrego?” Pensou. "Esta merda das traduções automáticas é muita manhosa"... Desligou o telecomando papal e foi falar com Monsenhor Sabatini, o seu secretário. “Eu já pedi um up-grade aos gajos da Vatican Power Systems, mas eles são uns moinantes, Eminência”. O cardeal então decidiu tentar convencer o Papa através de mensagens sub-liminares induzidas durante o sono, apenas a mexer a boca em vez de falar. Usaria um aparelhómetro debaixo da almofada pontifícia. Passados três meses e meio, na Conferêrência da Causa dos Santos, presidia o Sumo Pontífice. Abriu um olho e com uma mão a tremer quis falar mas só mexeu a boca. Por trás, Monsenhor Sabatini com uma voz de falsete ensaiava:
-“Olá Donald.”
-“Olá, Sabatini”- Disse o Papa (i.e. Sabatini em ventríloquo).
-“Diz olá aos senhores”- Disse o Sabatini.
-"Olá". Obedeceu o Papa (Sabatini). Sabatini, fazia umacara meio pateta e pouco convincente.
-"Estive a treinar com a cassete do Natal dos Hospitais".- Disse sorrindo satisfeito.
- “Estão a ver senhores, a minha técnica funciona.” Nisto o braço do Papa levantou-se agarrada a uma barra como aquela com que o Sapo Cocas mexia o braço.
-“Diz adeus, diz, Donald.”
- “Adeus”
O braço do Santo Padre abanou solto a acenar desajeitadamente.
-“Agora vejam só. Assina aqui, Donald".
O braço do Papa, comandado pelo Monsenhor Sabatini pegou numa caneta enquanto um observador da Opus Dei lhe passou um cheque do banco do Vaticano com muitos zeros para assinar.
A mão do Papa agitou-se sem nexo, rabiscando o cheque.
-“Lindo menino”.
Todos aplaudiram. Sabatini deu um cubo de açúcar ao Santo Padre que ficou todo contente.

FIM



quinta-feira, março 04, 2004

O EXTERMINADOR DA BOINA

O Ford Cortina lá seguia a vinte dois quilómetros por hora atrapalhando o trânsito e a economia nacional em vários quilómetros em redor. O reformado, impassível, ajeitou a placa dentária e pensou que o melhor era ir nas calmas pois o seguro morreu de velho e também como não tinha nada para fazer, tanto fazia. Talvez tivesse posto Corega-Tabs a menos na dentadura postiça já lassa, pois estava constantemente a ter que ajeitar a placa com um estalo, enquanto puxava o catarro e a gosma da garganta. De boina aos quadrados e as duas mãos bem firmes no volante ia, à cautela, a ocupar as duas faixas da estrada enquanto o terço balançava no espelho. A mulher ademoestava-o pelos excessos de velocidade e manobras perigosas. Entraram na área de serviço para meter dois litritos de gasolina super aditivada e lá seguiram. Os cabrões que vinham de frente, em contra-mão todos, faziam sinais de luzes e guinavam de repente. O reformado e a mulher faziam-lhes gestos e gritavam impropérios. Nisto, um carro da polícia, também em contra-mão, mandou-os parar. O agente estava um pouco esbaforido e apresentava sinais de algum descontrole. Mandou-o sair do carro e começou a gritar com ele. O velho pôs os óculos escuros e saiu. Do sobretudo abotoado até ao pescoço sacou uma enorme caçadeira de culatra automática e canos serrados, toda kitada, que segurava com uma só mão. Apontou ao carro da Brigada de trânsito e disparou. O carro desfez-se em pedaços numa aparatosa explosão, enquanto os polícias se atiravam para o chão. O velho então pôs-se de pernas abertas no meio da A1 e desatou a disparar para os automóveis e camiões que se aproximavam enquanto atrás de si os destroços do carro da GNR ardia e a mulher descarregava a AK-47 de duplo cano na cabeça dos guardas. Um camião cisterna após levar com um balázio no vidro da frente despistou-se e instantaneamente fez uma pirueta no ar estatelando-se na faixa de rodagem contrária. O camião em chamas arrastou-se durante centenas de metros espalhando um lençol de combustível a arder na estrada. Por fim bateu num rail dando origem a uma enorme explosão. O velho saltou para o cortina, arrancou deixando um rasto de borracha queimada no asfalto e desatou a disparar contra todos os automobilistas que passavam por ele. Tentavam desviar-se, mas ficavam irremediavelmente de miolos espalhados pelo tablier enquanto o sangue e os estilhaços de vidro voavam em todas as direcções. Uma barreira policial avistava-se ao longe com carros blindados cheios de homens armados, pilhas de pneus a arder, uma vala e arame farpado, provavelmente minado. O velho acelerou o Cortina de 1971 e foi direito a eles. Os polícias debandaram enquanto podiam enquanto o Cortina kitado com uma barra de aço e dois canhões de duas polegadas a disparar à queima-roupa se aproximou a todo o gás sem intenções de parar. Subindo pelo capot de um carro da polícia, que fez de trampolim, o Cortina passou a barreira pelo ar, enquanto o velho saiu pela janela a disparar em todas as direcções uma Magnum 44 kitada. No meio das chamas, do fumo e de pequenas explosões que ainda se iam sucedendo em fundo, surgiu a sillhueta do reformado andando lentamente ajeitando a boina e mascando a placa. A mulher vinha atrás com as mãos cruzadas sobre o estômago e a ajeitar os rolos do cabelo. O cadáver dum guarda, numa poça de sangue escuro, ainda segurava numa mão a multa por circular em sentido contrário numa autoestrada.

-"Estes caralhos devem pensar que a reforma de miséria que recebo dá para pagar multas. Eles querem todos é poleiro..."


segunda-feira, março 01, 2004

NÓTULA ACERCA DE UM PROVÁVEL EVANGELHO APÓCRIFO MAL CONHECIDO

Foi nos aposentos do Papa Urbano X, em Castelo Gandolfo, que foi encontrado um documento que apreciado em segredo por alguns notáveis da Cúria, após a morte do Papa, foi sendo tomado como uma antiga transcrição de padres arménios de um desconhecido evangelho apócrifo de Mateus. Tinha vindo em ânsias, dois meses antes, pedir uma audiência com Sua Santidade, o abade do Convento dos Mendicantes de S. Clóvis em cuja biblioteca, teria estado depositada a cópia mais antiga do documento. O bibliotecário descobrira-o numa arca entregue pelos Cruzados franceses à guarda do Convento durante a guerra dos Cem Anos, pois havia rumores acerca da importância do manuscrito que fazia parte dum espólio então trazido de Jerusalém. O ambiente foi de agitação e secretismo durante todo esse tempo e os funestos efeitos desta descoberta na saúde do Santo Padre foram fatais. Por diversos acasos veio uma tradução em baixo latim parar ás mãos do Assento da Sanita. Apesar de certamente adulterada faz ainda entrever o sucesso com que muitas cópias circularam sob a forma de panfleto pelas corredores de serviço e cozinhas do Vaticano. A análise do contexto histórico desta versão do século dezassete, transformada em autêntica epopeia evangélica, revela, no entanto, alguns traços que permitem assegurar da sua fidedignidade, pelo menos parcial, sujeita que foi aos escrutínio penetrante dum especialista nestas matérias, que humildemente aqui admito ser. Longos anos de estudo, dúvida e conflito íntimo levaram-me a tomar a decisão de expor a julgamento público o excerto mais significativo do texto, que é precisamente o ora apresentado. Não tem como propósito obscuro fazer vacilar a fé dos dois ou três leitores deste blog ou nem por sombras diminuir a imagem do Cristo aos olhos dos amantes da Verdade. Sói dizer-se que o objectivo do A. é apenas contribuir para o debate sério e salutar acerca da natureza do Mistério cristão. Algumas passagens claramente aludindo a acontecimentos políticos contemporâneos da versão apresentada são espúrios ao texto original e foram eliminados. É exemplo disto a passagem em que Aurelli Seborretti, um alegado filho natural de Cosimo I de Medici, tio-avô do Papa Urbano X, joga às moedas, perdido de bêbado, com um soldado romano disputando ao jogo a túnica do Redentor. Esta passagem consiste numa distorção dos factos narrados consistentemente em todos os Evengelhos e, é sem sombra de dúvida falsa, pois põe em acordo personagens que não foram obviamente contemporâneos. Outras passagens oferecem maiores dúvidas. Por exemplo, existe uma referência breve ao um gigantesco “charro” que Jesus teria fumado antes de falar com seu pai numa dada circunstância. Ora, o cânhamo-de-água vinha a ser usado, desde o século XVI pelas suas propriedades calmantes no tratamento da insónia e para minorar as agitações dos melancólicos e é já citado no Dioscórides, o famoso tratado médico da Antiguidade, mas outrossim para o tratamento do panarício sob a forma de emplastro, sendo pois desconhecido fumado com o fim de tratar de doenças nervosas! Esta inconsistência no contexto narrativo do texto fez com que o A. tomasse a decisão de o eliminar do excerto. Questões de forma foram também resolvidas tomando o princípio da parcimónia por guia. A por vezes abstrusa linguagem evangélica, foi também adaptada ao discurso mais actual, respeitando obviamente o conteúdo. Assim, sem mais demoras, passo portanto a transcrever o referido opúsculo.

“Naquele tempo, Jesus chegou a Jerusalém e ia por uma ruela escura e malcheirosa. Como ia de sandálias tinha que ter cuidado para não por o pé no regueirão dos despejos nem nos cagalhões dos cães. Jesus bateu a uma porta para falar da Boa Nova:
-“Arrepende-te pois o Reino dos Céus está próximo.”
Apareceu uma velha desdentada que andava a fazer as limpezas e abrindo uma meia porta, lhe atirou com uma penicada nas trombas.
-“Ai, desculpe. Vem pedir é? Tenho aqui uns restos do esparguete do almoço se quiser. Dinheiro é que não lhe posso dar porque isto está muito mau. Tenha paciência.”
-“Não quero dinheiro, mulher. Venho trazer a Palavra do Senhor.” –Disse Jesus limpando a mistura de urina e excrementos da face. Um coxinho, cego e leproso aproximou-se e disse:
- “Senhor, cura-me, pois eu acredito.
Jesus olhou-o com compaixão e disse:
-“Levanta-te e anda”.
-“Mas eu ando….sou coxo mas ando. Quero é que me cures da gonorreia que apanhei ali nas meretrizes, junto ao Templo. Não tenho dinheiro e elas cobram seis sículos cada pirafo. Emprestaram-me uma burra sarnenta para aliviar. Não sabia é que o animal já estava morto à três quinze dias e eu não era o primeiro…Até esguichava pelas orelhas de cada vez que eu dava uma bombada. Elas riram-se, as putas. Gozam com os desgraçados….”
-“Bom. Deixa lá isso. Queres juntar-te a Mim? Queres espalhar a Boa Nova?”
-“Eu querer queria, mas não posso.”
-“Porquê?”
-“Tenho aeróbica às quartas, step às quintas, “cardiokickboxing” às terças e GPC os outros dias.”
-“GPC”?
-“Glúteos, Pernas e Coxas. É por causa da celulite.”
-“Então se não podes, ao menos observa o Sabat, pois é o dia do Senhor.”
-“Olarilas.”
-“Larilas? Olhá lá o coxo sarnento! Dou-te cabo dos cornos, cabrão!” – Disse Jesus.
-“Vai para o caralho ò brochista cabeludo. Pensas que isto é o da Joana, não”.
Jesus, ficou furioso e espetou-lhe um pontapé nos colhões. O ceguinho dobrou-se num esgar de dor e o Redentor aviou-lhe um valente pontapé na boca seguido de um murraço nas costas que o deixou sem respiração. Os discípulos, Tomé, João e Tiago, quando apanharam o ceguinho no chão desataram a pontapeá-lo nas costelas e na cabeça. O Senhor saltava de pés juntos em cima do cego, enquanto a velha lhe malhava com o penico esmaltado na cabeça. O ceguinho ficou a gemer no chão
-“Ai, ai, ai, ai….ui, ui,…ui…ai, ai… que me foderam o canastro…”
Veio um cão que sofria de polução diurna e ejaculou em cima do ceguinho.
Jesus pegou no seu borreguinho de estimação e fez sinal aos apóstolos que se afastaram benzendo todos os presentes.
A velha ficou a remoer com os seus botões.
-“Foda-se. Já não se pode sair à rua hoje em dia. Esta merda é só mitra…”

FIM