quinta-feira, outubro 30, 2003

INCRÍVEL E TRISTE HISTÓRIA DE LUISA MELO E DO SEU AMIGUINHO ADÉRITO NÓBREGA DE ESPÍRITO-SANTO PEREIRA COUTINHO MELLO E CASTRO PULIDO VALENTE SILVA


Adérito estava drogado. Dora Leal aproximou-se dele e entregou-lhe um desentupidor de retretes já coçado. - Meu Deus! És tú, Senhor! - Disse Adérito. Dora olhou-o com desdém. -Eu não sou Deus, ó parvalhão… Adérito preparou mais um caldo. Misturou bicromato de potássio com goma arábica e guache. Encheu a seringa e injectou-se. Não chegava. Numa lata de sardinhas misturou metol, hidroquinona, carbonato de sódio e água. Deu o caldo. Ainda não via anjos e os santos muito menos. Misturou novamente, clara de ovo fermentada, umas pedras de sal e nitrato de prata. Deu o caldo. Apareceu-lhe uma pontinha dum santo. Primeiro era só metade da cabeça, um ombro e aparte de cima do braço esquerdo. A auréola aparecia um pouco esbatida, mas gradualmente foi ganhando nitidez. São Aparício de Colodi envergava uma túnica púrpura e tinha um ramo de oliveira na mão. -Exagerei no bicromato -pensou Adérito. Deu mais um bacalhau, desta vez de ácido acético glacial diluido. O santo estava nítido e aparecia de corpo inteiro, ou quase. Não se viam os pés, mas também isso era de pouca importância, pois dizia-se que o santo era pezudo e tinha uns joanetes disformes e calosos. S. Aparício pigarreou e disse: - falta uma pitada de tetracloreto de carbono, ò rústico. Adérito calculou que o santo queria ir-se embora dali, mas como não tinha pezinhos não podia andar. Deu tetracloreto. O santo foi-se a resmungar e a coçar o rabo. Um puxão leve na sua sobrecasaca brocada, chamou a atenção de Adérito. Era um anjinho papudo que agitava graciosamente as asinhas e sorria para o toxicodependente. - Já não tens mais droga, pois não?
Eusébio apalpou os bolsos e encontrou uma carteira de fósforos, que desfez com urina sediça, numa lata ferrugenta . Caldou a mistura com uma caneta de tinta permanente, pois tinha extraviado a seringa hipodérmica. Pensou que era melhor passar outra vez pela traficante.

O bairro insalubre e decadente estava apinhado de drogados que corropiavam num frenesi. A droga passava de mão em mão, enquanto os taxistas despejavam prostitutas dos Monsanto que vinham buscar produto. Bateu à porta. -Entre. disse uma voz rouca e pouco amistosa. A traficante afagou o enorme anel dourado e espevitou os dentes. - Queres alguma coisa? Luisa Melo era a maior traficante de metabissulfito de sódio do sórdido bairro da Cruz de Pau. - Há muito tempo de não aparecias aqui na Rua do Xiripiti do Cabuletê…- Pois é. Disse Adérito. -Tive uns negócios. Arranja-me uma "quarta" de "metabi". A pérfida vendedora de droga procurou nos bolsos mas só tirou uma cassete para deixar de fumar - Método Prof. Doutor Passbeck - e um dente de ouro. - "metabi" não há, môm. Tens que levar outra coisa. Queres corrimento da minha empregada doméstica? - Isso bate bem? - Perguntou Adérito. Ouve, bate bué!… Tens é que dar cinco litros com um clíster. -Ada-se! -Praguejou o outro. - Um clistér de corrimento de uma pessoa, que sabe-se lá, andou sentada nos transportes públicos! Nem pensar. - Ouve, é bacano...- Disse Luisa Melo. - Ok, está bem - retorquiu Adérito. Luisa Melo passou-lhe uma enorme penicada dum liquido fedente, viscoso, verde amarelado, com granhotos e espuma. - Este tem uma semanita, mas até é melhor. Bate mais. - Disse a Melo.

Lá fora, as crianças ranhosas brincavam. Com o cabelo rapado, cheio de peladas e crôstas, brincavam nuazinhas da cintura para baixo, dentro de alguidares. Os seu brinquedos eram, ratazanas já secas, talos de couve, limões usados, fezes brancas de cão, barbies carecas e polidas de sujidade, latas vazias de pesticida, diôdos laser, côdeas de tártaro do urinol da estação ferroviária do Rossio, tripas de galinha e crucifixos. - Pobres anjinhos, espero que venham a ter bons empregos. - Pensou Adérito apiedado das crianças. E começou a imaginar o que viria a ser o futuro daquelas crianças infelizes. Provavelmente apenas conseguiriam sobreviver nas margens da sociedade, votados ao mais abjecto ostracismo de uma barraca de chapa zincada, onde a insalubridade e a fraca luz do candeeiro a petróleo mal poderiam iluminar o monitor do Pentium III com que compravam as acções da PT - Multimédia por tuta- -e-meia para depois vender por exorbitâncias. "Vidas"… - Pensou, com um suspiro. - Eu vou ser gestor público. - Disse uma das crianças com uma vozinha trémula, enquanto sorvia o ranho directamente do nariz e ajeitava a pala de borracha nos grossos éculos de massa. Adérito, comovido, partilhou a sua seringa com o petiz. Era um bom homem. Deram uma "quarta" de acetato de etilo e tiveram de fugir a sete-pés, pois eram perseguidos. Um Deus pindérico, de longos cabelos e barbas brancas, arregaçava a túnica comprida para poder correr melhor e liderava uma horda imensa de figuras sacras e celestiais: 327 anjos, 15 arcanjos, 11.000 virgens, S. Francisco Xavier e de Assis, S. Escoto Erígeno, Sª. Hildegarda de Bingen, S. Judas Macabeu, S. Nicolau de Cusa, S. Aníbal Cabrita, S. Menelau Artaxerxes Assurbanípal Osório Mendes, S. Pelayo de Oviedo. S. Dimitri Rimsky-Korsakov de Andrade e Arez, Sª. Teresa Cristina Duarte Telles, S. Emídio da Padaria, S. José Lapa, um cão tinhoso, um anão manco e zarolho qu vinha atrasado e por fim uma pomba branca com um ramo de oliveira no bico. Os dois corriam pelas ruelas sujas, enquanto a multidão furiosa os perseqguia aos gritos.
- Ganda brôa, ada-se, que o produto era bom. - Disse Adérito à criança. - Pois era, retorquiu a criança. Já não apanhava uma destas desde que a minha avó se dava com o pó das lâmpadas fluorescentes e me deixava sempre um tracinho na seringa.

Entraram numa igreja e refugiaram-se na nave lateral oeste, por detrás de um rico altar de talha dourada, sob o zimbório, onde encontraram também uma algália usada. O sacerdote fazia uma pia leitura:

" Naquele tempo, Javé enviou um querubim a Lot e o querubim foi a casa de Lot e o conheceu várias vezes com brutalidade. Lot ungiu a cabeça de Asreth com uma pasta de leitaça e óleos do templo de Moloch e Nisrit e disse a Asreth: - que Javé o senhor teu Deus disse: - que o pastor não possua o seu boi mais do que doze vezes por dia e sacrificarás um bezerro de quarto em quarto de hora no Tabernáculo de Javé durante vinte anos e não cometerás abominação e honrarás a nudez de tua mãe e a sua nudez não descobrirás que abominação é e não roubarás a funda da hérnia de teu pai e o honrarás . Javé apareceu na casa de Lot e este cobriu a sua face. Houve gemidos e ranger de dentes a noite inteira e Javé enviou uma praga de gafanhôtos a Lot por Express Mail. Naquele tempo, Jesus conhecera a Sara, sua irmã e também a um homem chamado Inias e o conheceu também. Jesus subiu então ao Gólgota e disse aos discípulos e a um bêbedo que por ali andava: - Ide, dizei em Nazaré, que a casa de Ninive têm dez filhos e que nenhum honrará o seu pai e mãe e irmã e cunhada e tio e sobrinha e conhecerá Javé, pois este anda com uma coisa esquisita na cabeça que lhe dá umas pontadas do lado esquerdo e nãs cadeiras e rins e não sabe como é que aguenta aquilo com uma reforma de vinte sete contos e quinhentos. Então, Elias, que era filho de Abedeu, que era filho de Zias, que gerou a Noad, que gerou a Ananias, que era pai de Zil profeta de Samaria e disse: bebamos vinho e nos deitemos com nosso pai pois a geração de nosso pai não continuará. E deram vinho a seu pai e coabitaram com ele e não teve conhecimento nem quando se deitou nem quando se levantou."

"Oremos pois, irmãos. Gloria in excelsis Deo. De profundis miserere nobis, Domine. Kyrie eleison. Christe eleison. Eli, Eli, lama sabactani e mais não sei quê." - O padre era o Feytor Pinto e estava a despachar a missa porque tinha um jogo de canasta com a Tucha Vanzeler ás cinco horas no bar do Gambrinos.

Adérito, que era temente a Deus persceniu-se três vezes e caldou o azeite das candeias do altar-mor. William S. Burroughs estava ao seu lado em pelota, disse-lhe: vai um almocinho? - Buga.- Disse Adérito. Durante o almoço, W. S. Burroughs contou-lhe que a N. Sª de Fátima era tríbade e andava enrolada com a de Lurdes e parece que passavam a vida no Centro de Acolhimento de Prostitutas "O Ninho", na conversa com a Teresa Horta e a Lara Li. Adérito coçou o cachaço e disse: -isso é lá com elas, a vida de cada um é com cada qual e a gente não tem nada a ver com isso. E persceniu-se três vezes e disse: - cruzes canhoto, vá de retro t´arrenego e que eu morra já aqui ceguinho! - Deus ouviu aquilo e Adérito morreu ali ceginho e deu uma valente cabeçada na ombreira do jazigo de família, porque coitadinho não via nada. Bom… Nisto, a Luisa Melo bebia um licorzinho de ovo Bols com aniz escarchado pela garrafa enquanto prestava declarações na Super-Esquadra montada numa roulotte na Praça dos restauradores. - Pois é, sim senhora. Com que então a senhora vendia substâncias tóxicas e psicotrópicas para não dizer mesmo entorpecentes e euforizantes… - Dizia o cabo Pires, enquanto meneava a gravata suja de vinho tinto e molho de sardinhas. - Era…- dizia a Luisa Melo. - Nome completo?. Questionou o cabo Pires. Luisa Melo percebera que o cabo era um simplório e que se deixava enganar facilmente. Então começou a mentir com quantos dentes tinha:- Luisa Alexandrovna Bratiskaia Ludmila Pachasknikova Lisenko Dimidovitch Putin Andropov Prigogine Karamazov Melo. - Bom está bem. Desta vez passa. Vá-se lá embora, que eu hoje estou bem disposto. Despediram-se cordialmente cum um único beijo na face e Luisa disse: - então vá.


FIM

Na Damaia

Aristides escondeu o produto debaixo da cama, entre o penico de esmalte e vibro-massajador facial de fantasia da mulher. Era um enorme objecto de silicone vermelho e translúcido em forma de pepino e com grossas veias salientes. Tinha também um funil lateral para despejar leite a ferver ou ovas de peixe quentes, a gosto, no clímax da massagem. Teve que afastar ainda os vários meios-limões bolorentos que Adérito, o seu primo em segundo grau, acumulava às dezenas, junto das colheres queimadas e dos kits. Dava-lhe os preservativos como compensação, mas bolas, tanto lixo era demais! O problema é que depois as crianças andavam por ali a brincar e chupavam os limões enquanto perseguiam as ratazanas que se acoitavam debaixo do catre malcheiroso. Ainda havia um busto de Napoleão Bonaparte, que Aristides usava como acessório nas práticas de sexo anal com a sua prima Noémia Telma.

Nisto, viu brilhar uns olhos no escuro. Não, não era uma ratazana, era Quim o Rei do Kuduro que se tinha escondido ali, a tremer de medo. – “ Ouve lá. O que estás aqui a fazer?” – “Estou a gravar o meu teledisco do “Morena safada, basaste com o meu coração”. – “ Está bem, mano. Deixa-te estar” – Disse Aristides. –“ E também anda aí a bófia racista atrás de mim por causa desse autorádio Blaupunkt aqui”. – E começou a emitir uns sons imitando uma groove box programada para hip-hop, enquanto abanava a cabeça e borrifava a cara de Aristides com perdigotos – “Polícia racista, filhos da mãe, persegue o negro que tem fome! São uns cães, cabrões que não têm pena de quem não come! PH!...PH! PFFH!...YO!”

(CONTINUA)





O PERÚ

O pobre agricultor de Entre-Douro-e-Minho chegou, mais uma vez, cansado e empoeirado à sua modesta casa. Daquela vez não sentiu o habitual cheiro do jantar de papas de sarrabulho que invariavelmente a sua mulher lhe servia. Entrou e ouviu relinchar na cozinha. Esfregou os olhos e fitou o imenso marsapo equino que a sua mulher deglutia com gula. Era o alazão do pároco, que tinha vindo cumprir as suas obrigações pastorais. O padre Matias enfiava-lhe o nabo, bem untado de sebo-de-hollanda, no anús tumefacto e arroxeado. Um cigano todo sujo limpava o esperma sediço, nos cabelos da sua esposa, enquanto Tejo, o fiel cão-pastor, ejaculava em cima da malga das migas de broa.
-"Bons olhos o vejam amigo Venâncio!" - Disse o padre. -"Estava aqui a confraternizar com a Dona Eufrásia. Também trouxe aqui um amigo, o Lelo. Ele é o novo sacristão, enquanto o Sandro Vanderlei não recupera da overdose de esteróides anabolizantes que apanhou. O pobre coitado queria ter mais músculos...Sabe? Ele é um bocado fraco da cabeça. Mas enfim, por enquanto desenrasco-me aqui com o Lelo que acampou no átrio ontem." Lelo tirou uma valente chapelada ao agricultor enquanto o padre Matias limpava a verga a um pano da loiça bordado por Eufrásia. -" Pois é, pois é...Cá vamos indo. Bom, vou andando que ainda tenho que ir visitar o orfanato." O agricultor acenou-lhe em silêncio, esboçando um sorriso. A mulher ainda disse: " Mande sempre Sr. Prior!". O Padre pegou na rédea do cavalo e saiu.

Eufrásia deu um sonoro peido com malho e afastou-se em direcção à sala, deixando um rasto de esperma e fezes liquefeitas.

O agricultor pensou que talvez o seu casamento estivesse numa daquelas fases de crise e cortou um bocado de broa, afastando o cão-pastor, que entretanto adormecera em cima do pão.

Pelo canto do olho, reparou que afinal o cigano Lelo ainda ali estava. O étnico raspava lascas de esmegma (*) seco do malho, enquanto cantava: " Ai, tani tani...", entretido que estava na tarefa. Também tirava lascas de sarro dos dentes que dava a comer ao cão. Este saltava abanando cauda para os pitéus que Lelo lhe deixava cair na boca. A mulher do agricultor raspava o corrimento seco das cuecas pútridas que já não mudava há mais de três quinze dias. -" Isto no Inverno não está para secarmos roupa. Há que poupar".

O agricultor ligara a televisão para ver as noticias. - "Boa noite." - Disse a Manuela Moura Guedes na TV. - " O Governo decretou hoje, pelas 16 horas, o estado de calamidade pública (...)" - O agricultor mudou de canal. Na SIC estava a dar um talk-show em que estavam a entrevistar a N. Senhora de Fátima. - " Essa vacarrona de Lourdes é uma impostora!" Eu se a apanho meto-lhe (...)". Mudou outra vez de canal. Estava a dar a inauguração do Estádio de 200.000 espectadores do Desportivo das Aves, para o Euro 2004. O agricultor, cansado, adormeceu em menos de um minuto. A mulher pôs a as cuecas na barrela. O cão teve uma polução nocturna em cima da canastra das cebolas. O cigano tinha saído porque tinha sido realojado num apartamento duplex de 400 m2, com vista para o mar, que o Ministério do Emprego e Solidariedade Social lhe tinha atribuído em razão de um programa de erradicação de barracas.

O agricultor sonhava com uma enorme cruz de 700 metros de altura, enquanto a mulher zurzia o filho mongolóide que tinham escondido num galinheiro há já vinte e dois anos.

(*) Esmegma - substância branco-amarelada constituída por sebo e células do epitélio que se acumula nos orgãos sexuais.

FIM

terça-feira, outubro 28, 2003

O Joel Branco

O Joel Branco andava a passear na Praia do Rei com uns amigos. Eram uns rapazes bem apessoados, musculados, carecas e com uns generosos bigodes à Freddy Mercury. – “Eu cá acho que o Tachy é o melhor para rapar as pernas” – Dizia Amândio Sanches do O. Frulânio Mendes da Maia discordou. – “Eu fui ali ao Health Club Vaticano Galaxy fazer electro-coagulação, depilação definitiva, estás a ver?” – E apontava orgulhoso, para as suas pernas glabras e musculosas. – “ Ouvi dizer que o Karl usava cera fria.” – retorquiu Desidério Brites, também conhecido na noite da Caparica como Joana Cunegundes Mendonça y Arez. –“Karl? Qual Karl? “ – Inquiriu Joel Branco, enquanto ajeitava o calção fio-dental. – “ O Karl Lagarfeld, claro!” – Disse, Desidério, um pouco abespinhado. – “ Eu cá ouvi dizer que ele era homossexual…” Disse, Amândio à boca pequena. Os outros ficaram de queixo caído e olhos esbugalhados. – “Não pode ser…” – Desidério estava descorçoado. – “ Porra, não escapa ninguém. Isto qualquer dia é só paneleiragem!” – Concordou Joel Branco. - “Olha, que lhe faça bom proveito”.

Nisto, passou por eles o cabo-do-mar Ernesto Cosme Ouspensky de Freitas. – “ Olá Ernesta! “ – cumprimentaram todos, entusiasmados e aos guinchinhos. Ernesto trazia a última Spartacus debaixo do braço. – “ Nem queiram saber” – Disse um pouco constrangido. – “Parece que o Alex, aquele cantor romântico, sabem? …É homossexual”- Ficou tudo para morrer. Joel Branco teve um chilique logo ali. Os outros ficaram em pânico, de braços no ar, andavam em volta do amigo inconsciente. –“O melhor é desfazer-mo-nos do cadáver!” – Disse Amândio de olhos rasos de água e o queixo a tremer. Os outros concordaram e enterram-no na areia sob o olhar indiferente de alguns banhistas esparsos que andavam por ali. –“Ai que porra! E agora? Acho que nem vou dormir bem hoje…” – atalhou Desidério. – “ Porquê, mulher? Por causa do tadinho do Joelinho? Olha, que se foda! Quem cá fica é que…” – O outro interrompeu-o. – “ Eu cá gostava dele, se bem que desatinava com as sanitas sempre entupidas por causa daqueles cagalhões grossíssimos que ele fazia.” – “És uma vaca!” . Nisto, pegaram-se à pancada, guinchando e rebolando na areia. Quem vira aquele perturbação da ordem pública fora Deus Nosso Senhor que decidiu intervir. –“Que vem a ser isto?!” – Disse Deus, sacando dum bloquinho, enquanto passava a ponta do lápis na boca. – “ Ora, as vossa identificações, fazem favor”. Deus Nosso Senhor sorvia o ranho e puxava pelo cinto das calças que escorregava pela barriga volumosa. –“Todos para a esquadra! Andor!” – Dito isto sacou dum grosso cacete que os detidos olharam com gula.

Ernesto e Desidério seguravam no arquinho e os restantes nos balões, enquanto cantavam alegremente em direcção á esquadra.

Deus fazia orelhas moucas e vista grossa enquanto um septuagenário que estava a mascar a dentadura com um saco de plástico na mão, parado no meio de uma passadeira lhe perguntou: -“Há problema Sr, guarda?” – Não senhora. Estou só a levar esta gandulagem para averiguações. É que com isto dos pretos nunca se sabe.” O velho anuiu. – “ É que isto eles são tantos e têm muitos filhos, que qualquer dia não há portugueses.” Ao ouvir isto, Amândio disse ao velho – “ Eu cá tenho filhos todos os dias. São castanhos e moles, sem esqueleto”. Deus deu-lhe uma cachaporrada na cabeça, admoestando-o. –“ Anda lá cabrão, deixa os cidadãos em paz”.

FIM

sexta-feira, outubro 24, 2003

Conto

Padre Luis gostava de clistéres com pelo menos cinco litros de água de cozer peixe. De cú para o ar, gostava da sensação voluptuosa da água a inchar-lhe a tripalhada e logo depois a esguichar-lhe com toda força do cú contra o altar-mor, com um sonoro prrrrrllll….Vestia umas cuecas de senhora e mijava-se pelas pernas abaixo em cima da pia baptismal. Também gostava de lamber, amar e adorar os pés calosos e másculos de Eusébio Cano Carmona, o sacristão cigano. Sentia um prazer especial em despersonalizar e humilhar Clotilde Rosa Araújo, a mulher da limpeza cuzuda que cirandava por ali. Obrigava-a a fazer as limpezas da sacristia usando uma máscara lisa de couro preto, enquanto pontapeava, insultava e rebaixava a pobre desgraçada, que andava de joelhos. As páginas da Biblia coladas de esperma seca e merda, eram o seu cheiro favorito para queimar no incensório, enquanto atava as crianças da catequese nas masmorras da igreja.

Deus via aquilo tudo e pensava no castigo que havia de enviar ao Padre Luis. Talvez mandar uma coluna de fogo e enxofre que abrasaria a igreja. Não. Era melhor uma inundação valente, ou transformá-lo numa estátua de sal, ou mesmo mandar-lhe uma praga de gafanhotos. Não. Matar-lhe os primogénitos todos. Não tem filhos, é verdade. Uns raios para o fulminar? Primário. Não. Um terramotozito?. Não que matava muitos inocentes. Peste! Não sei. Da bubónica que é pior, com pústulas a escorrer pús…ou lepra! Isso lepra, lepra! Lepra!…Ou talvez não. Uma inundação?…

Enquanto Deus matutava no castigo, o padre enterrava o braço no recto de Clotilde Rosa Araújo até ao cotovelo. Esta estava atada ao altar de uma das capelas laterais da basílica. Da imagem de Jesus crucificado pendia uma algália cheia de mijo espumoso. A picha do cão Serra da Estrela estava presa no anús do padre e não queria sair. “Ai Meu Deus! Acudi-me! Socorro, Senhor! O cão está-me entalado!” suplicou o Padre.

Deus que estava ainda a matutar no castigo, disse-lhe “ Agora aguentas-te, que é muito bem feito!…”.

Padre não se resignou com o castigo Divino e tentou lubrificar aquilo com Forza limpa-fornos. O cão como era alérgico, inchou-lhe a picha que, concomitantemente inchou no recto do padre. Este gemia de gozo e agitava-se num frémito, que se transmitia a Clotilde Rosa Araújo, a Lésbica.

Deus viu que aquilo não era bom e pensou em mandar uma trovoada valente.

Eusébio Cano Carmona sugava gulosamente o pénis do cão que entretanto se soltara do anús do Padre. Os olhos do cão entravam pelas órbitas adentro e o anús do cão emitia um ruido como que um beijo repenicado.

O padre meteu-se no carro e zarpou rapidamente dali. Ia tão depressa que os pneus chiavam, enquanto fazia curvas em duas rodas. A porta ia aberta e a bater. Desgraçadamente, um hemerróida mais comprida do padre (resultado do “fisting” e outras práticas aberrantes) prendeu-se na roda dianteira e puxou todos os 20 metros de intestino do padre, que ficaram enrolados na roda do automóvel e este morreu.

Quando chegou ao Paraíso, Deus disse-lhe: “ Ouve lá. Que vidinha, hem?. Maroto.”

FIM

OS INTESTINOS DE MADEMOISELLE DE BLANC SEC

A criança andava com umas durezas. Custava-lhe a evacuar; fazia força mas não saia nada. Às tantas lá espremeu tanto que lhe saiu um cilindro de esperma ressequida do anús inflamado e tumefacto. Um cilindro de pele em volta do anús acompanhou a forma do cagalhão branco à medida que este saía com dificuldade do recto. Quando a torcida acabou de sair, a pele ficou caida e flácida. A pele só regressou ao normal ao fim de quinze dias. Andava assim desde que tinha ido para aquele explicador de francês. A mãe começou a ficar desconfiada com aquilo e foi falar com Monsieur De L`Halle Condorcet Harnoncourt et Ille-de-France. Quando chegou, o digno professor estava de óculos na ponta do nariz e escrevia qualquer coisa num pregaminho amarelado.
- Senhora De Blanc Sec, seja bem vinda a esta modesta casa! Sente-se por favor. Então vem saber dos progressos da pequena Adelle? Está-se a sair muito bem.
Nisto, ouviu-se uma vozinha sumida debaixo da secretária:
- Senhor professor...Posso deixar de chupar?...
- Não senhora! Continue e chupe com mais força, se faz o favor! - Disse, falando para debaixo da secretária. O professor remexeu-se na cadeira, e ajeitou bruscamente qualquer coisa que a mãe de Adelle não pode ver.. Um ruido abafado, uma espécie de gargarejar surdo continuou. A senhora De Blanc Sec ficou intrigada, mas continuou a expôr as suas preocupações maternais, enquanto o digno senhor cofiava as pontas retorcidas do bigode. Enquanto a Senhora continuava, o professor sentiu qualquer coisa nas tripas. Um sonoro peidão saiu-lhe das entranhas durante largos segundos. O professor esfregou a barriga e disse com um ar aliviado:
- ando aqui com uns gases...mas por favor, continue.- Ouviu-se um guincho surdo debaixo da mesa e um tossir de engasgo. O professor deu uma sapatada debaixo da secretária que logo calou aquele ruido. O garagarejar voltou ao ritmo habitual. A senhora engoliu em secou, limpou a garganta e continuou, com um ar de algum embaraço. Mas, de repente, abriu-se repentinamente uma porta de onde saiu um preto enorme e musculoso, só com umas cuecas “fio dental”, que vinha todo suado.
- uélélé, os patrão qué os pichá grossa nos bunda di patrão, agora?
- Agora não, Emídio, vai antes aquecer o leitinho das crianças.
- Pô os tomati nos água quënti patrão?
- Sim, vai te lá lavar.- Dito isto piscou o olho ao negro e fez um gesto para ele sair. Nisto começou a ficar agitado, a suar e a contorcer-se na cadeira.
-Hum... Mas...hum...ah!...con...continue minha senhora! Num esgar escancarou a boca e revirou os olhos e urrou como um boi. A arfar lá foi dizendo à apoquentada mãe que não se preocupasse e que aquilo era normal quando as crianças tinham lombrigas. Ele próprio se encarregaria do assunto. Era para além de professor de francês um especialista em desparazitar intestinos de crianças.
Nisto voltou-se a ouvir a vozinha debaixo da secretária:
- senhor professor já acabou o tratamento?
- Não minha filha!...Chupa, não vês que tens uma ténia!...
A mãe agradeceu e foi-se embora aliviada.


FIM

TELENOVELA: I Episódio

Amanda amava Armando, que guardava em segredo ser seu irmão, e filhos do Adérito que se fazia passar por canalizador. Adérito papara o cuzinho a Ernesta, a cozinheira de Amanda que era sua mãe, e de Armando também. O que Adérito e Ernesta desconheciam era que eram irmãos, filhos dos avós de Amanda e Armando, como é obvio. Carmelo, o avô de Armanda, que era um rico milionário, andava a tentar seduzi-la, assim como a convencê-la a matar Adérito, pois este andava desconfiado de qualquer coisa. A filha de Armando tinha sido enviada para um orfanato onde se enamorara do filho secreto da filha de Amanda. Esta criança tinha nascido duns amores secretos de Adélia, a sua filha e Aurélio, um filho ilegítimo de Adérito, sendo portanto seu tio. Assim, Silvio o filho ilegítimo de Adélia era primo da sua mãe e sobrinho de seu pai. A cena passa-se numa rica mansão em Caracas.

Amanda- Armando, meu amor, eu amo você, não amo aquele velho debochado que me quer comer o melhor!...

Armando - Mas...você não sabe o terrível segredo que ele lhe esconde?

Amanda- O quê? O capachinho?

Armando - Não.

Amanda - A síflis ?

Armando - Não.

Amanda - A gonorreia ?

Armando - Não.

Amanda - O fraquinho por molejas ?

Armando - Não.

Amanda - O rolo de trincha que ele tem metida no cú já la vão quase seis meses ?

Armando - Não.

Fim do 1º Episódio.


Cenas do próximo capítulo:

Amanda faz um 69 com Ernesta desconhecendo o facto de esta ser sua mãe e ter herpes genital. Silvio sodomiza o homem da drogaria, que afinal se revela ser Carmelo disfarçado. Aurélio ejacula no ouvido de Sandro, o caniche de Adélia. Amanda entra numa festa cheia de jet set e jornalista de colunas sociais, com uma garrafa na mão e a mijar-se pelas pernas abaixo. Na festa, Armando faz um broche a um criado.


II -Episódio


Amanda está debaixo da cama dedicando-se aos prazeres secretos da masturbação com uma garrafa de leite Vigor. A seringa cheia de drogas duras espetada no pescoço e saco da cola no nariz. Otávio, o seu criado preto metia-lho no cú a sangue frio. A esporra escorria debaixo da cama. Armando, que não desconfiava de nada, estava sentado emcima da cama e lia a Biblia. No rádio estava a dar o programa da Igreja Universal do Reino de Deus. O pastor Edvaldo, em quinze minutos, já tinha curado trinta cancros da cabeça.

Amanda - Ugh!... MMbrll...Ah...Hu...Ah...Hu...Faz...Faz...Mmh...Ah, Ah, Ah...Hu...Hu...Hu.!...

Armando - (peida-se). Eh, caralho!

Amanda - Ohh!...MMmmh!...Ah, Ah...Ah....Ah....Hu....Hu....Hu....Oh, que groooosso!...

Um por-do-sol, com uma vista aerea da cidade acaba com uma musica triunfal.


FIM




CONTO RUSSO.

Anatol respirava ofegante sob a imensidão do espaço, iluminado pela ténue luz azulada que reflectida no Planeta Bakor. Por vezes havia clarões mais intensos de luz alaranjada, que davam a impressão que todo o Universo, até aos limites visíveis se enchia dum por do sol com nuvens cor de cobre. Quando se flutua no espaço a milhares de quilómetros acima dum planeta gasoso, composto de anidrido sulfídrico e metano não se pensa em mais nada. Anatol estava a três anos-luz de casa. As distâncias imensas entre ele e tudo, o horizonte que não é uma linha, e se prolonga em todas as direcções, e o ruído do silêncio. O pior é isso. Anatol apenas ouvia com espaços de cerca de meia hora, o seu colega, que a bordo da pequena nave lhe pergunta se está tudo bem. -”Está...” -responde Anatol, a custo. Está esmagado pelo imensidão vazia no centro da qual ele está. Passam horas e o cosmonauta não pensa em nada. Deixa-se flutuar ao sabor das leis de Kepler, em órbita do grande planeta. Cada volta demora cerca de uma hora e meia. São cerca de 120.000 Km, que passam mais depressa no perigeu. No seu perigeu, pensa Anatol. Poucos foram aqueles que tiveram a honra de ter um perigeu e um apogeu pessoais. Na sua qualidade de satélite artificial de Bakjor, Anatol cruza os pontos zenitais à velocidade do pensamento, enquanto a estrela azulada - a anã branca Nemesis IV- se vai apagando lá ao longe, com pequenas explosões surdas.
Ao fim de cerca de quatro horas Dimitri volta a chamá-lo pelo rádio: -”Anatol, volta. Temos um problema. Parece que vamos escapar da órbita de Bakor. “ -Disse-lhe calmamente o colega. Apressou-se a entrar na câmara de compressão da nave. Fechou as comportas estanques, e acebdeu-se a luz verde. Uns jactos de ar encheram a câmara. -”Podes tirar o capacete e anda daí”- Disse Dimitri.
Estavam a ser estranhamente atraídos para um misterioso planeta esbranquiçado, que os tinha feito entrar em velocidade de escape. Dimitri esclareceu o colega.
- “ Os sensores indicam que teremos de aterrar naquele planeta, pois registam formas de vida, ...espera, temos contacto via radio!...”- Os dois cosmonautas entreolhram-se. -”É um sinal de video!..., vê as leituras dos sensores, equanto eu tento descodificar este sinal.”- Anatol olhou para o ecrã dos sensores e disse, espantado: -” Nem vais acreditar, a composição é...é...esporra!...os continentes são esporra seca de três quinze dias, e os mares são de esporra liquida!...”- Dimitri nem o ouvira, pois estava atónito a olhar para o ecrã, onde um cigano todo seboso, com um bigode untoso e um chapéu sujo se apresentava prasenteiro..-” czzz...Alô...cfzzz....Alô...daqui fala o Lelo...os senhores não querem umas alcatifas baratinhas...ou pó do belo...cfzzz...Alô...”- A seguir apareceu uma criancinha de caracois louros, com um bibe de colégio interno, aos gritos: -”Socorro, salvem-me! Tenho o cúzinho todo esburcinado! Socorro!...”- Os cosmonautas ficaram mudos de espanto. Anatol, arregaçou a manga e disse:-”Passa aí o limão e o garrote”- O outro respondeu: -“ Espera aí”- já com a seringa espetada no braço.

FIM



IMPRESSÕES SOLTAS DA MINHA RUA.

Era uma vez um velho libidinoso que se chamava Hilário e que tinha um cão. O cão tinha um defeito no crâneo porque tinha sido atropelado por um camião. O velho era grande e gordo e não tinha pescoço. Andava de chinelos de quarto na rua a meter-se com as crianças de tenra idade. Quando não haviam crianças, metia-se com as mulheres casadas. Quando não haviam mulheres casadas, pegava nas patinhas de trás do cão e sodomizava-o no colo, com as fezes esbranquiçadas a escorrerem-lhe pelas calças. No café, o dono limpava afincadamente a fiambreira enquanto resmungava, e tentava engatar uma velha que já ia na terceira trombose. Um viciado em heroína adormeceia à mesa do café, com um copo na mão. A GNR vazia a rusga do dia, enquanto uma vagabunda com um trapo infecto na cabeça chafurdava nos contentores do lixo. Um GNR dizia da janela do jipe, qualquer coisa à velha. Uma gorda alcoolica atirava-se da janela do quarto andar, perante a indiferença das pessoas que estão a beber o café. Ainda por cima se riam. O GNR pontapeava a cabeça da velha que ficava estendida junto ao lixo. Um homem de fato de treino e um rádio-gravador enorme ao ombro engatava uma adolescente e levava-a para uma barraca numas hortas. Ela engravidava e ele ia preso por posse ilícita e tráfico de estupefacientes. Ela arrastava a pança nos prédios dos pretos a fazer fellatios para arranjar dinheiro para a droga. Uns iam para centros de recuperação de toxicodependentes enquanto outros iam vender fotocópias de fato e gravata. Uns arranjavam namoradas cabeleireiras e que se prostituiam. As mães de alguns iam para freiras. O vento fazia redemoinhar o lixo, enquanto muitas pessoas lavavam os carros nos lagos dos jardins e os miudos pequenos tentavam apanhar os peixes entre as arremetidas do Hilário. Um cão sarnento era alimentado por uma frustrada de cabelo curto e oleoso, que tinha uma bata e um filho maricas. No café, umas gordas falavam de doenças e cemitérios, aos gritos. Tinham esta conversa hà anos, todos os dias. Nuns prédios carunchosos, um marido respeitável era apanhado possuindo uma burra no meio de um eucaliptal. Os filhos iam andar de mota com barretes de lã na cabeça e beber vinho do Cartaxo. Num prédio estavam a matar uma galinha no patamar do primeiro andar. Como o sangue escorria pelas escadas abaixo, os outros inquilinos tinham que se desviar. No mesmo prédio, uma das vizinhas ia por mézinhas e fazer bruxarias à porta da outra para a outra abortar. Outra recebia um vibrador tamanho "extra" na volta da Redoute. De manhã andavam à pancada no chão com facas. Uma apanhava um pontapé na pança do marido enquanto estava ao tanque porque o alcool dá muita energia aos homens. Na praceta de cima, uma senhora ia pegada com um cão pastor numa maca levada por uns bombeiros. Como o filho tinha voltado de uma casa de correcção e casara com uma semi-puta que coisava com qualquer magala que lhe aparecia, ela embebedava-se e passava a vida no cabeleireiro. Um homem masturbava-se dentro do seu Talbot de 1969, que lhe custara 60 contos. Como a mulher era frígida tinha de se contentar com mulheres nuas das revistas. Tinha era que se controlar para não gastar a indemnização que recebera por ter sido despedido em prostitutas. Encostado à empena de um prédio onde um GNR dera um tiro na cabeça por ter uma amante, um bêbado crónico mijava-se pelas pernas abaixo. Um guarda noturno ia ao cú a um maluquinho da casa de saúde do Telhal a troco de bonecos da bola.

FIM